BLOG DO NASSDIF
A Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, traz uma comprovação
básica: o nível de emburrecimento nacional é invencível. O senso comum
definitivamente se impôs nas discussões públicas. E não se trata apenas
da atoarda que vem do Twitter e das redes sociais. O assustador é que
órgãos centrais da República – como o Ministério Público, a Polícia
Federal, o Judiciário – tornaram-se reféns do primarismo analítico.
Como é possível que concursos disputadíssimos tenham resultado em
corporações tão obtusamente desinformadas, a ponto de não ter a menor
sensibilidade para o chamado interesse nacional. Não estou julgando
individualmente delegados ou procuradores. Conheço alguns de alto nível.
Me refiro ao comportamento dessas forças enquanto corporação.
Tome-se o caso da Operação Carne Fraca.
A denúncia chegou há dois anos na ABIN (Agência Brasileira de
Inteligência). O delator informou que a Secretaria de Vigilância
Sanitária no Paraná tinha sido loteada para o PMDB. Levantaram-se provas
de ilícitos em alguns frigoríficos.
Por outro lado, há uma guerra fitossanitária em nível global, em
torno das exportações de alimentos. Se os delegados da Carne Seca não
fossem tão obtusos, avaliariam as consequências desse bate-bumbo e
tratariam de atuar reservadamente, desmantelando a quadrilha, prendendo
os culpados.
Mas, não. O bate-bumbo criou uma enorme vulnerabilidade para toda a
carne exportada pelo país. Os anos de esforços gerais para livrar o país
da aftosa, conquistar novos mercados, abrir espaço para as exportações
ficaram comprometidos pelo exibicionismo irresponsável desse pessoal.
Ou seja, havia duas formas de se atingir os mesmos resultados:
1. Uma investigação rápida, discreta e sigilosa.
2. O bate-bumbo de criar a maior operação da história, afim de satisfazer os jogos de poder interno da PF.
As duas levariam ao mesmo resultado e a primeira impediria o país de
ter prejuízos gigantescos, que pudessem afetar a vida de milhares de
fornecedores, o emprego de milhares de trabalhadores, a receita fiscal
dos impostos que deixarão de ser pagos pela redução das vendas – e que
garantem o salário do Brasil improdutivo, de procuradores e delegados.
Qual das duas estratégias seria mais benéfica para o país? A primeira, evidentemente.
No entanto, o pensamento monofásico que acomete o país, não apenas
entre palpiteiros de rede social, mas entre delegados de polícia,
procuradores da República, jornalistas imbecilizados é resumido na
frase-padrão de Twitter: se você está criticando a Carne Fraca, então
você é a favor de vender carne podre.
Podre se tornou a inteligência nacional quando perdeu o controle de
duas corporações de Estado – MPF e PF – permitindo que fossem subjugadas
pelo senso comum mais comezinho. E criou uma geração pusilânime de
donos de veículos de mídia, incapazes de trazer um mínimo de
racionalidade a essa barafunda, permitindo o desmonte do país pela
incapacidade de afrontar o senso comum de seus leitores.
Veja bem, não se está falando de capacidade analítica de entender os
jogos internacionais de poder, a geopolítica, o interesse nacional, as
sutilezas dos sistemas de apoio às empresas nacionais. A questão em jogo
é muito mais simples: é saber discernir entre uma operação discreta e
outra que afeta a imagem do Brasil no comércio mundial.
No entanto, essa imbecilidade, de que a destruição das empresas
brasileiras contaminadas pela corrupção, permitirá que viceje uma
economia mais saudável, é recorrente nesse reino dos imbecis. E se
descobre que a estultice da massa é compartilhada até por altos
funcionários públicos, regiamente remunerados, que se vangloriam de
cursos e mais cursos aqui e no exterior. O sujeito diz asneiras desse
naipe com ar de sábio, reflexivo. E é saudado por um zurrar unânime da
mídia.
Discuti muito com uma antiga amiga, quando mostrava os impactos
dessas ações nos chamados interesses nacionais e via mão externa, e ela
rebatia com conhecimento de causa: não são conspiradores, são primários.
Imbecil é o país que se desarma completamente, Judiciário, mídia,
organizações que se jactam de ter Escolas de Magistratura, de Ministério
Público, de Polícia Federal e o escambau, permitindo mergulhar na mais
completa ignorância institucional.
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