sábado, 24 de março de 2018

PARASITAS (PARASITAS (Guerra Junqueiro))

No  meio de uma feira, um grupo de palhaços 
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o  monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda agente deu esmola aos tais ciganos;
Deram esmola até mendigos quase nús,
E eu, ao ver este quadro,  apóstolos romanos,
Eu lembrei-me de vós ,funâmbulos da cruz,
Que andais pelo Universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.

-------------------------------------------------------------
Abílio Manuel Guerra Junqueiro (LigaresFreixo de Espada à Cinta15 de setembro de 1850 — Lisboa7 de julho de 1923) foi alto funcionário administrativo, político, deputadojornalistaescritor e poeta. Foi o poeta mais popular da sua época e o mais típico representante da chamada "Escola Nova". Poeta panfletário, a sua poesia ajudou a criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República. Foi entre 1911 e 1914 o embaixador de Portugal na Suíça (o título era "ministro de Portugal na Suíça"). Guerra Junqueiro formou-se em direito na Universidade de Coimbra

Nenhum comentário: