domingo, 12 de junho de 2011

- MURILO MENDES

Canção de exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia

onde cantam gaturamos de Veneza.

Os poetas da minha terra

são pretos que vivem em torres de ametista,

os sargentos do exército são monistas, cubistas,

os filósofos são polacos vendendo a prestações.

A gente não pode dormir

com os oradores e os pernilongos.

Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.

Eu morro sufocado

em terra estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

nossas frutas mais gostosas

mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade

e ouvir um sabiá com certidão de idade!



Murilo Monteiro Mendes (Juiz de Fora, 13 de maio de 1901 - Lisboa, Portugal, 13 de agosto de 1975) - Poeta da chamada 'segunda geração modernista', passou várias mudanças na linguagem aos longo de sua obra, do poema-piada, religioso ao surrealismo. É considerado um dos mais importantes poetas brasileiros. Publicou livros de poemas, de prosa e de frases. Viveu os últimos quinze anos de sua vida em Roma, onde deu aula de Literatura Brasileira.

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