segunda-feira, 8 de agosto de 2011

AS FLORES DE PARIS




A Sully Prudhomme


Ep’ra corações contentar
Abril voltou. Primaverar
Que chora, que ri, no atrapalho,
E que, feito um falbalás,
Nos dá inaugural lilás.
“Flori-vos já! Dois réis o malho!”
Pós, como cheiro e sonho em raio,
As pequenas rosas de maio,
E derradeiras violetas,
Com os lírios dos camponeses,
Tal qual os bons chapéus chineses
Que fariam soar sinetas;
As silindrás e os cravos mil,
Tons rubros, brancos, roxo-anil,
Flores botão ou volumosas,
Como nos trigos, escovinhas
E as papoulas mescladinhas
Aos resedás entre rosas.
Pois os jardins, bosques, matos,

Que conhecem bem nossos tratos,
Flores de lá enviarão.
Guardam sempre bem mais guardados.
Nós andamos não tão apressados;
É tão bom assim tal visão.
Seco ao pisar ou ruim ao passo,
Encher as carroças com o braço,
E já doentias e pálidas,
Elas cheiram, o que agrada,
Custam nada ou quase nada,
Mesmo que resistam cálidas.
Frágeis, morrerão amanhã
N’ água de um vaso, ou lá na lã
Branca de luva fêmea e calma,
E, para todos, bem e lume
Entregando o último perfume,
Elas exalarão a alma.


René Armand François Prudhomme, mais conhecido como Sully Prudhomme (Paris,16 de Março de 1839 — Châtenay-Malabry6 de Setembro de 1907), foi um poeta francês.

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