Diálogo noturno -
Eis-nos sós enfim - tu e eu -que conversávamos no leve tom geral
sobre coisas sem valor e sem memória;
não sentias a certeza de viver
que ora sentes, nem o desejo
de violarmos o silêncio a pairar sobre nós
nesta noite, talvez como ameaça,
talvez indagação.
Nosso corpos serão o caminho
numa viagem que busca a verdade
até o momento no qual eu te encontre
e sob as flamas repousemos
em verde sombra; eu te contemplando
direi no meu íntimo o que é a mulher
eterna e então serás minha
e eu te pertencerei;
e repetindo vozes muito antigas
veremos o rubor do sangue e a púrpura da alma enfim unidos;
unidos
o sossego e a vertigem, a chama e o gelo, as trevas e a luz.
José Paulo Moreira da Fonseca (Rio de Janeiro em 1922 - Rio de Janeiro 2004) - Foi um poeta ligado à geração de 45. Foi também ensaista, crítico de arte e pintor. Em 1957, foi agraciado com o Prêmio Graça Aranha por seu livro Raízes. Também ganhou o Jabuti duas vezes, com o livro Três Livros e Luz e Sombra. Participou da várias exposições de pintura representando Brasil.