Sebastião Nery
Tribuna de Imprensa
Em 1944, os inimigos da ditadura já estavam cansados de esperar que
Getúlio Vargas cumprisse o compromisso de convocar eleições. Decidiram
partir para a ofensiva e lançar um candidato. Diante da situação,
procuraram um militar. Surgiram três nomes: general Heitor Borges (que,
na partida da FEB para a Itália, havia dito, em discurso, que os
pracinhas iam defender lá fora a mesma democracia que queriam aqui
dentro), o general Estilac Leal e o brigadeiro Eduardo Gomes.
Brig. Eduardo Gomes
Procurado por Pedro Aleixo, Eduardo Gomes insistiu que o candidato devia
ser um civil e, de preferência, o próprio Pedro Aleixo. Mas acabou
aceitando não propriamente a candidatura, mas o lançamento de seu nome
para pressionar o ditador. A bola de 1945 começou a rolar.
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GETULIO
Getúlio foi surpreendido pela notícia e logo foram presos, no Rio,
Adauto Lúcio Cardoso, Dario de Almeida Magalhães, Virgílio de Melo
Franco, Austregésilo de Athayde.
Coriolano de Góis, chefe de Polícia, disse que a ordem era do ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra.
Procurado, Dutra desmentiu: o Exército não tinha nada com as prisões. Alguém foi a Getúlio, que disfarçou:
- Não sei do que se trata. Soube que o doutor Virgílio de Melo Franco
foi preso porque perturba o esforço de guerra, articulando
candidaturas.
A candidatura Eduardo Gomes cresceu e Getúlio, encurralado, foi
obrigado, no dia 22 de fevereiro de 45, a convocar eleições para
dezembro.
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PEDRO ALEIXO
Pedro Aleixo relembrou essa história ao saudoso jornalista Antonio Carbone e dela tirou quatro conclusões:
1.“A História ensina que em política não se deve ficar perguntando aos
outros o que fazer. Cada qual que faça o que acha que deve fazer e deixe
o resto por conta dos acontecimentos, que sempre vão em frente.”
2. “Em 1944, em plena ditadura, lançamos um candidato à Presidência sem
que tivessem sido convocadas eleições. O lançamento é que forçou a
convocação das eleições e apressou a derrubada do ditador.”
3. – “É um erro ficar-se muito atento à música oficial para ver como se
dança. Cada qual que dance com a música de suas convicções”.
4. “Quem bate demais também esfola a mão de tanto bater.”
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LULA
Lula e o PT começaram o ano batendo em todo mundo, adversários e aliados
mais distantes. Diziam que iam varrer o pais ganhando as eleições
municipais de ponta a ponta. Bastaram três meses de campanha para
quebrarem a cara. Estão sendo derrotados e humilhados de norte a sul.
O PT deixou de ser um partido. Virou uma cara. Ameaçavam com o começo do
horário eleitoral. Iam jogar a cara de Lula na TV e todo mundo teria
que sair da frente. Veio o horário eleitoral e Lula e o PT deram chabu.
Lula havia anunciado que iria a todas as capitais e às maiores cidades.
Descobriu que não bastava comprar pesquisa
do Ibope. ( O Vox Populi, de tão lacaio e desmoralizado, nem comprador
encontra mais). E Lula nem foi a Recife. O candidato do PT desabou por
si. Foi a São Paulo e o candidato do PT não sai do lugar. Pôs a viola no
saco e sumiu no Mexico.
Das outras 22 capitais, só foi a duas : Salvador e Manaus. Não adiantou.