quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Paulo Henriques Britto

Biodiversidade - 

Ha maneiras mais fáceis de se expor ao ridículo,
que não requerem prática, oficina, suor.
Maneiras mais simpáticas de pagar mico
e dizer olha eu aqui, sou único, me amena por favor.

Porém ha quem se preste a esse papel esdrúxulo,
como ha quem não se vexe de ler e decifrar
essas palavras bestas estrebuchando inúteis,
cágados com as quatro patas viradas pro ar.

Então essa fala esquisita, aparentemente anárquica,
de repente é mais que isso, é urna voz, talvez,
do outro lado da linha formigando de estática,
dizendo algo mais que testando, testando, um dois três,

câmbio? Quem sabe esses cascos invertidos,
incapazes de reassumir a posição natural,
não são na verdade uma outra forma de vida,
tipo um ramo alternativo do reino animal?

Paulo Henriques Britto (Rio de Janeiro, 1951) - Além de poeta, é professor e tradutor. Estreou na poesia em 1982 com o livro Liturgia da matéria, depois publicou Mínima Lírica (1989) e Trovar Claro (1997) com o qual recebeu o Prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação da Biblioteca Nacional. Em 2003 publicou Macau, com este ganhou o Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira. Depois Paraísos Artificiais (2004) e Tarde (2007).