terça-feira, 21 de outubro de 2014

Rouba-se de tudo, mata-se por nada, surra-se por pouco

POLÍTICA

 

Projeto para combate à violência? Fala sério! Quem sabe, com sorte – e se sobrevivermos -, na próxima eleição.
Mês a mês, aparecem notícias de jovens e adolescentes que, traídas, sempre auxiliadas por amigas e/ou amigos, sequestram e torturam as traidoras. Ações devidamente registradas em vídeos e postadas nas redes sociais. Para ser exemplar.
O recado é claro. Não ouse avançar sobre o MEU. E esse meu pode ser um homem, uma mulher, uma coisa. Hoje, a designação popular para traidores/as é “fura olho”. E se veio furar meu olho, tenho o direito de fazer um de tudo com você, não? Lei de talião.
Neste outubro, no Distrito Federal, dois idosos apanharam em ônibus. Ambos ousaram tentar ocupar lugares devidamente a eles reservados. Um deles, em ônibus interestadual. O outro, em ônibus urbano.
Segundo o noticiado, nenhum dos dois havia “brigado” pelo lugar. O primeiro apenas conferiu a numeração e, “de boa”, resignou-se a ocupar outra poltrona vaga. No final da viagem, apanhou do ocupante indevido do lugar que lhe era de direito.
O do ônibus urbano pediu vaga em assento reservado aos idosos, então ocupado por um adolescente. Apanhou da mãe do garoto que, aboletada na poltrona vizinha, injuriou-se e desceu a mão no senhorzinho.
Nas delegacias, esses agressores não costumam mostrar arrependimento. Nas redes sociais, particularmente, algozes das traidoras são até celebrados. É a “justa” fúria da posse ameaçada.
A violência é lugar comum. Observar e comentar a banalidade da violência também é lugar comum. Assunto saturado. Chato.
Rouba-se de tudo, mata-se por nada, surra-se por pouco. A abominável tortura é tema inclusive de humorísticos. Todo mundo sabe que é praticada Brasil e mundo afora por razões de Estado, da polícia, de vinganças – grandes e pequenas, como no caso das tais traídas.
Sintoma explícito da doença social de agora, genérica e disseminada, a violência é um bicho papão permanente que ameaça e ainda assusta, mas, assimilada, nem mais provoca indignação. Só resignação.
Existe e pronto. Tomara que não me alcance, rezamos nós, os todos ameaçados, inclusive por revindicar pequenos direitos, como o de ocupar lugar comprado/ reservado em transportes públicos.
Goela cheia, mas convenientemente aquietada, acolhemos sem muito espanto possíveis futuros governantes dispararem – sem cerimônia, dedo em riste, um para o outro – inqualificáveis qualificações.
Nada demais. Só guerra verbal. Coisa pouca para quem vive permanentemente ameaçado por ações, atitudes e armas muito mais pesadas.
Projeto para combate à violência? Fala sério! Quem sabe, com sorte – e se sobrevivermos -, na próxima eleição. 

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