SEGUNDO O jurista, sociólogo, historiador, cientista político e escritor brasileiro, .RAYMUNDO FAORO, QUE Foi TAMBÉM membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, a corrupção é um "vício" herdado do mundo ibérico, resultado de uma relação patrimonialista entre Estado e Sociedade..
O nepotismo já teria desembarcado no Brasil a bordo da primeira caravela, sendo apontado como exemplo a Carta a El-Rei D. Manuel escrita por Pero Vaz de Caminha, onde solicita ao rei que mandasse "vir buscar da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro". Para ocupar e administrar o novo território, tarefa bastante complicada pela distância geográfica e precariedade das comunicações,
a coroa portuguesa teve de oferecer incentivos e relaxou na vigilância de seus prepostos. Isso gerou um ambiente de tal modo favorável à prática da corrupção, que já noséculo XVII, o padre Antônio Vieira denunciou-o através do Sermão do Bom Ladrão, onde expõe corajosamente os desmandos praticados por colonos e administradores no Brasil:
| “ | O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera. (...) os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. - Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. |
dURANTE A DITADURA Tivemos um presidente da República, general João Batista Figueiredo, que afirmava preferir o cheiro de cavalos ao odor do povo brasileiro. Eu acho que ele foi infeliz no seu comentário, mas entrou pobre e morreu pobre.
Já no atual momento de democracia que ora vivemos tivemos um deputado federal que nada aprovou em seus 4 anos de mandato e, não mais sendo candidato disse que a Câmara Federal tinha pelo menos 300 picaretas. Depois se elegeu presidente, "gosta" do cheiro do povo, entrou pobre, 8 anos depois saiu rico. Não só ele, mas seus filhos e parte dos filiados políticos do PT e sindicalistas ligados ao partido ou a famigerada CUT.
Uma vez, Pelé afirmou que "brasileiro não sabe votar". Isso foi a cerca de 40 anos e eu me lembro que Pelé foi execrado. Confesso que também critiquei o nosso eterno rei do futebol, mas não era para menos. Todo mundo querendo democracia, querendo votar e vem Pelé com uma conversa dessa.
Quase 40 anos depois, a mídia que o criticou e até a Justiça Eleitoral parecem estar falando o mesmo que Pelé. Todos praticamente acusando os eleitores de esquecerem em quem votaram. De não acompanharem a atuação daqueles que elegeram E ETC.
Enfim, parecem culpá-los pelo comportamento dos mensaleiros, sanguessugas, Lava Jato e outros mafiosos engravatados que chegaram ao Congresso Nacional.
O cientista político Alberto Carlos Almeida, da FGV, demonstra que 71% dos eleitores esqueceram em quem votaram para deputado federal quatro anos antes. É verdade que a chamada "amnésia eleitoral" é maior entre os de menor escolaridade. Mas, 53% das pessoas com nível superior também não se lembram de seu voto.
A grande mídia, que diz que não sabemos votar e eu em tese concordo, faz não apenas com a maioria da população mais pobres, mas também com as outras classes sociais mais abastadas financeira e intelectualmente estudada, uma lavagem cerebral,. oferecendo-lhes entretenimento fácil e barato e informação simplificada e desestimulante.
Canais como a TV Senado ou TV Câmara só chegam a quem paga tevê a cabo. De outro lado, quem é que vai trocar filmes, novelas, desenhos animados e outras atrações por discursos longos e chatos? No máximo, assistem aos "jornais das oito", com seu formato cada vez mais espetaculoso e menos explicativo.
Ora, toda essa estória de "fique de olho em seu deputado" não passa de um jeito de colocar a culpa no povo e deixar em paz o próprio sistema. Este sim, cria os quase sempre esquecidos corruptos públicos e os nunca lembrados corruptores privados. E quando surgirem novos escândalos, as palavras de Pelé serão novamente lembradas, ainda que não ditas.
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