segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Direitos

 

Millôr Fernandes

O direito de cada um termina quando o outro reage ou chama a polícia.
O direito de cada um termina onde começa o direito alheio. Isso deve ser sempre lembrado pelos mais fracos, porque é o primeiro princípio de direito apagado pela amnésia na memória dos mais fortes.
E Esaú vendeu seus direitos de primogênito por um prato de lentilhas, homologando os royalties.
Todo homem tem o sagrado direito de torcer pelo Vasco na arquibancada do Flamengo.
O direito de resposta é fundamental. Senão a gente fica até pensando que o outro lado pode ter razão.
Todo homem tem o direito inalienável à vida e à liberdade, exceto em ocasiões excepcionais, como catástrofes de âmbito nacional, abalos de amplitude internacional, modificações das instituições, ameaças incontroláveis, falta de teto nos aeroportos, movimentos subterrâneos, engarrafamentos de tráfego, congestionamentos de linhas telefônicas, chuva grossa, crises econômico-financeiras, construção de metrôs, pontos facultativos obrigatórios e mau humor permanente da velhinha no guichê.
O problema do direito de ir e vir é que tem sempre um chato que teima em ficar.
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Millôr Fernandes

Millôr Fernandes nasce no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 1923. Filho do engenheiro Francisco Fernandes e de Maria Viola Fernandes, por erro de caligrafia do tabelião, seu nome que deveria ser Milton, foi registrado Millôr. Ficou órfão de pai aos dois anos e de mãe aos 12 sendo criado pelos tios.
Com 15 anos começa a trabalhar na revista O Cruzeiro, como repaginador e contínuo. Com 16 anos, teve a primeira oportunidade de exibir seu talento, foi convocado a preencher uma lacuna de publicidade em quatro páginas da revista A Cigarra. Ao conjunto do trabalho ele deu o nome de Poste-Escrito. Assinava com o pseudônimo de “Vão Gôgo”. Em 1943 volta para a revista O Cruzeiro.
Em 1946, faz sua estreia literária com o livro Eva sem Costela - um livro em defesa do homem, e sete anos depois é montada sua primeira peça de teatro, Uma Mulher em Três Atos. Sua coluna “O Pif-Paf”, que depois vira revista, foi considerada uma das pioneiras da imprensa alternativa. Quatro anos depois participa da fundação do jornal O Pasquim, o tabloide incendiário que fustigava a ditadura militar.
Millôr tem mais de 40 títulos publicados, Como dramaturgo, alcançou sucessos como Liberdade, Liberdade (em parceria com Flávio Rangel). Como artista gráfico teve trabalhos expostos em várias galerias de arte do Rio de Janeiro e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Fez roteiros de filmes, programas de televisão, shows e musicais e foi um dos mais solicitados tradutores de teatro do país. Irônico, polêmico, com seus textos (aforismos, epigramas, ironia, duplos sentidos e trocadilhos) e seus desenhos, foi um gênio de sua arte. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 27 de março de 2012.

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