quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

O filho de ferroviário que aliviou a dor de milhões de pessoas com ibuprofeno

Em 1939, quando milhões de adultos se preparavam para matar uns aos outros na Segunda Guerra Mundial, Stewart Adams era um adolescente desorientado. Aos 16 anos, tinha decidido jogar a toalha e abandonar os estudos. Era um filho da classe trabalhadora. Seu pai, maquinista de trens, tinha problemas de visão e fora rebaixado a um emprego menos qualificado na localidade de March, um centro ferroviário no leste da Inglaterra. Nada fazia pressagiar que aquele jovem atordoado iria aliviar o sofrimento de bilhões de pessoas.
Stewart Adams conseguiu seu primeiro emprego por indicação de um amigo da família. Ainda imberbe, começou a trabalhar como aprendiz na Boots, uma rede local de farmácias. Um adolescente sem vocação aparente para o estudo não parecia a melhor contratação para a empresa, mas Adams acabou estudando Farmácia em seu tempo livre, doutorou-se com quase 30 anos e em 1953 recebeu a missão de encontrar um anti-inflamatório oral mais eficaz e seguro que a aspirina. Em 1969, três décadas depois de ter começado como aprendiz, levou o ibuprofeno às farmácias. Aquele rapaz foi uma das melhores contratações da história. Atualmente, as farmácias Boots vendem uma caixa de ibuprofeno a cada 2,92 segundos.
A equipe liderada por Adams estudou 1.500 compostos em animais e levou cinco deles para experimentos em seres humanos. O quinto teve sucesso. Os testes clínicos mostraram que o ibuprofeno era eficaz em pacientes com artrite reumatoide, sem grandes efeitos colaterais. Em 1969, as autoridades britânicas aprovaram a droga. Em 1971, depois de uma festa com colegas, Adams descobriu que o ibuprofeno aliviou a ressaca, como contou entre risadas ao jornal britânicoThe Telegraph. E em 1983, com o crescente número de indicações terapêuticas, o órgão regulador permitiu a venda do medicamento sem receita. Fazia 30 anos que Adams havia assumido sua missão.
“Quem poderia ter previsto há mais de 35 anos que ao buscar um medicamento para o tratamento da artrite reumatoide apareceria um vínculo entre as queimaduras solares nas cobaias, a dor de cabeça, a dor de dente e a dor menstrual?”, perguntou o próprio Adams em 1992, na publicação especializada The Journal of Clinical Pharmacology. Costuma-se dizer que a busca por fármacos é um campo minado e que é preciso ter sorte para não sucumbir pelo caminho. Mas Adams preferia lembrar uma frase do químico francês Louis Pasteur: “A sorte só favorece a mente preparada”. Hoje, as vendas anuais de ibuprofeno no mundo chegam a 3 bilhões de dólares (cerca de 11 bilhões de reais), segundo cálculos de Rainsford. Em 1987, o homem que havia abandonado a escola aos 16 anos foi nomeado Oficial da Ordem do Império Britânico.
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