terça-feira, 2 de junho de 2020

Três países que venceram o vírus




O país adotou uma estratégia própria. A neozelandesa seguiu o 
receituário canônico dos epidemiologistas. A premiê Jacinda Ardern 
implantou um dos lockdowns mais rigorosos do mundo. Desde o final de
 março, a população foi impedida de manter contato com qualquer um fora
 de casa por seis semanas. As fronteiras foram fechadas. Todo viajante 
era obrigado a ficar de quarentena.
A Islândia nunca chegou a implantar um lockdown, apesar de ter 
restringido atividades supérfluas, como danceterias ou salões de beleza. Ninguém foi obrigado a usar máscaras. Em vez disso, o país implantou um
 dos programas de testagem e rastreamento mais abrangentes do planeta.
 Até o dia 17 de maio, 15,5% da população islandesa havia sido testada, segundo reportagem na edição desta semana da New Yorker.
Outra inovação islandesa foi sequenciar o genoma do vírus de todos os infectados, para verificar a presença de mutações e o caminho do contágio. Com isso, os cientistas descobriram apenas dois casos em que uma
 criança contaminou um adulto – e o país se sentiu mais seguros para 
manter
 abertas creches e escolas primárias (hoje, secundárias e universidades já
 foram reabertas).
Ao mesmo tempo, o governo restringiu reuniões com mais de 20 pessoas e criou uma equipe de rastreamento de 52 pessoas, com o poder de pôr sob quarentena qualquer infectado descoberto. Foi crucial também ter 
começado cedo, logo que as primeiras notícias da pandemia surgiram
 na China. Resultado: 180 casos confirmados, uma única morte.
O exemplo mais enigmático é o Japão. Não houve lockdown nem 
quarentena. Não houve programa de testes em massa. Não houve o rastreamento sistemático de todos os infectados. Ainda assim, o número
 de casos diários caiu do pico de 743, em 12 de abril, para até 14 por dia 
no final de maio, de acrodo com reportagem na Science. Em um mês, os pacientes hospitalizados caíram de 10 mil para 2 mil. A estratégia japonesa
 se basou essencialmente no combate às aglomerações.
Estima-se que apenas 10% dos infectados sejam responsáveis por 80% 
das novas infecções (leia mais aqui). O Japão decidiu concentrar seus 
esforços nesses superdifusores. Descobriu que os principais centros de contaminação eram academias, bares, shows musicais, karaokês,
 restaurantes e eventos esportivos. A característica comum a todos é a aglomeração por longos períodos de tempo, com conversa ou cantoria.
O governo tomou medidas para que todos evitassem aquilo que, nas
 iniciais
 em inglês, ficou conhecido como 3Cs: espaços fechados, multidões e
 contatos próximos, com conversa cara a cara. Não foram descobertos 
focos de transmissão no transporte coletivo, onde a maior parte das 
pessoas fica quieta e passou a usar máscaras.
No início, a estratégia parecia ter dado errado. Os casos subiram, e o 
governo viu-se obrigado a implantar o estado de emergência a partir de 7
 de abril. Desde então, houve uma campanha maciça para educar o público
 para o novo comportamento, longe das aglomerações. A adesão da 
população também foi maciça. Resultado: suspensão das medidas emergenciais a partir do último dia 14.
Aos poucos, o Japão começa a voltar ao normal. Eventos culturais com 
100 pessoas já estão liberados. Na Nova Zelândia, também já são
permitidas reuniões para até 100. Na Islândia, para até 50. Nenhum dos 
três países acredita ter vencido a batalha em definitivo. O risco de irrupção
 de novos focos obriga todos a manter a vigilância.
Os três exemplos mostram que estratégias diferentes podem ter sucesso
 no combate à Covid-19. Antes, porém, é preciso levar a pandemia a sério, 
em vez de recair em fantasias negacionistas, de acreditar em remédios milagrosos ou de desprezar a morte de milhares em nome de delírios ideológicos.

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